Confira um breve histórico de Nair Goulart
Nair Maria de Jesus Goulart nasceu em Dores do Indaiá, cidadezinha do centro oeste de Minas Gerais, em 23 de fevereiro de 1951.
Como seus pais faleceram muito cedo, foi criada por uma família que a adotou. Seu pai adotivo era pedreiro e sua mãe adotiva, lavadeira. Quando Nair tinha oito anos a família se mudou para Belo Horizonte, onde terminou o primário. Como a vida na capital era muito difícil, voltaram para o interior.
Aos 12 anos, vivendo no município de Divinópolis, começou a trabalhar como empregada doméstica para ajudar a família.
Em 1968, período de intensa repressão no Brasil, Nair, então com 17 anos, entrou para o grupo de jovens da igreja.
Foi quando conheceu vários militantes de esquerda, passou a ler os clássicos e a entender mais sobre a luta de classes entre trabalhadores e patrões.
A partir disso começou a se interessar pela política. A situação estava muito grave. Devido à sua atuação no grupo foi convidada para participar do movimento estudantil na cidade.
Quando concluiu o ginásio, em 1969, partiu sozinha para Belo Horizonte, buscar emprego e uma situação melhor na capital.
A essa altura ela já tinha um grande interesse em participar da política e ajudar a combater a ditadura.
Decidiu, então, com seu companheiro Beto, mudar para o Rio de Janeiro. Com a cara, a coragem e uma mala de roupa na mão, mudaram-se para o Rio em 1973.
Nair fez o curso de inspetora de qualidade e começou a trabalhar em uma indústria têxtil. Chegou a participar do Sindicato dos têxteis no Rio de Janeiro, em 1975.
Foi perseguida durante o regime militar e teve que se mudar para São Paulo em 1977.
Em São Paulo trabalhou na metalúrgica DF Vasconcelos e, depois, na linha de montagem da Caloi. Em depoimento ao Centro de Memória Sindical, em 1985,
Nair falou sobre sua chegada em São Paulo e a entrada no Sindicato dos Metalúrgicos: “A gente chegou em São Paulo num sábado. Pegamos um ônibus no Rio e chegamos em São Paulo no sábado. Em 1977.
Aí a gente olhou no jornal, o Estadão, e estava cheio de oferta de emprego. Era um período de pleno emprego. As fábricas de São Paulo, ali de Santo Amaro, punham aquelas placas enormes: ‘Precisa-se’. A Villares, a Metal Leve, essas fábricas grandes, todas pedindo ‘precisa de ferramenteiro’, ‘ajudante geral’, tudo. Placas enormes com as funções que estava precisando.
Havia também várias ofertas de emprego, na minha área, controle de qualidade. Aí eu olhei, escolhi e fui na primeira DF. Vasconcelos, que fabricava periscópio para a Marinha. Olha só, para a Marinha! Eu trabalhava para o Exército! Fui lá, fiz teste e aí voltei. Era tinha certeza que tinha ido bem.
Sabia o que estava fazendo. Aí o engenheiro João, aí foi conversar comigo e disse: ‘Olha, o seu teste foi ótimo.
Você está muito bem preparada, tem o perfil, mas eu tenho um problema, a gente não vai poder te contratar, porque na fábrica onde a gente precisa de controle de qualidade não tem mulher trabalhando.
Só tem homens. Como é que você vai poder trabalhar sendo inspetora numa empresa?’. Aí eu senti na pele. Mas não tinha consciência nenhuma de gênero, nada disso.
Conversei com ele, disse que achava isso uma coisa complicada, porque eu estava preparada para a função e precisava da oportunidade. Resolvermos tentar. ‘Quem sabe dá certo?’. E me contratou. Fui trabalhar naquela fábrica, uma delícia. Adorava o emprego, gostava do meu trabalho, nunca tive problema com o pessoal, nada. Ao contrário, o pessoal me adorava.
Eu entendia bastante de desenho, então, chegava o protótipo, o desenho da peça que ia entrar na máquina para ser preparada, aí eu olhava o desenho e discutia com os ferramenteiros, com o pessoal do desenho, ia lá e discutia. E dava certo, entendeu?
Depois, trabalhando na Caloi, entrei pra Cipa fui eleita, e passei a participar do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, já mudando minha atividade dentro da fábrica.
Então já dentro da Caloi, comecei a fazer um trabalho sindical. Daí veio a proposta para composição da chapa, dentro de um acordo com o Joaquim. Uma chapa de unidade.
E nós, evidentemente, estávamos afim trabalhar nessa unidade. Havia duas mulheres na chapa, a Mariazinha e eu, em 1981. Entramos para diretoria com proposta de modernizar o sindicato. Criamos a proposta de ter assessorias, de organizar um setor de imprensa, um setor de ter uma assessoria econômica, etc”.
Nair participou do processo de organização das centrais sindicais, da Conclat de 1981 e foi uma das organizadoras do 1º Congresso de Mulheres Trabalhadoras Metalúrgicas de São Paulo, em 1986. Em oito de março de 1991, no Congresso de Fundação da Força Sindical Nacional, foi eleita Secretária Nacional de Políticas para as Mulheres.
No ano Nair 2000 mudou-se para a Bahia, onde assumiu a frente da Força Sindical do Estado. Uma das mais ativas e coerentes lideranças do movimento sindical nacional e internacional, Nair foi presidente Adjunta da Confederação Sindical Internacional (CSI), membro do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho, OIT, e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDES). Na Bahia, fez parte do Comitê Gestor da Agenda Bahia de Trabalho Decente e compôs o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, CODES- BA. Em 2014, por iniciativa da vereadora Fabíola Mansur (PSB), Nair foi homenageada na Câmara Municipal de Salvador, pela sua vida de lutas, recebendo a Comenda Maria Quitéria. Há seis anos vinha lutando contra o câncer, vindo a falecer no dia sete de setembro de 2016. Deixou um filho, Thiago, e um neto.
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